terça-feira, 20 de abril de 2010

Saudade da solidāo


Ontem foi um dia muito especial. Apesar de ter ido para a cama às quatro da manha, dormir em euros nao vale a pena e logo despertei. Cruzei a cidade com o passo apressado de um paulista e com a ansiedade de uma criança. Na estaçao principal cheguei para tentar alugar uma bicicleta. Linda, azul e como a de todos os locais...classica como uma "barra forte".

Ja conhecendo um pouco a cidade, deslizava sobre seu asfalto sem medo de errar a entrada. Como se soubesse totalmente para onde estava indo, entrava na direita, como se fosse pegar um atalho, quebrava malandramente a esquerda. O vento frio da manha cortava o rosto e pelo reflexo do predio pude observar que estava sorrindo. A primeira coisa que veio a cabeça...fugir deles...fugir de ser um deles...os turistas.

Cruzei o rio pela ponte vecchio e logo estava afastado daquela multidao de maquinas fotograficas modelo "acabaram de lançar". Pelas ruas da verdadeira cidade, circulava assobiando, observando as pessoas. Atraves do suave passo de uma "nona", lembrei da minha que ja partiu. Aquele pedaço de Florença em pouco lembrava a ja alguns minutos para atras. E com aquele breve momento de fuga, pude sentir o prazer da liberdade. Uma liberdade que so alcançara com a minha "solidao programada". Recorrendo ao meu mapinha, fui em direçao a parte mais alta da cidade e tambem muito frequentada por aqueles seres das maquinas fotograficas.

Sem as minhas 27 marchas da minha magrela ( que no momento adormece num porta malas), subir a ladeira que dava acesso a pizzale Michellangelo foi uma tarefa quase impossivel ( ainda mais com uma pequena ressaca ) e empurrando a bicicleta cheguei sobre o badalar dos sinos a igreja mais alta de Florença. O dia continuou... Sem rumo ia pedalando, gostava de uma rua, entrava...via alguma coisa na outra, entrava. Ate que me deparei com uma enorme ladeira. Pelo mapa e algumas placas que tinha passado, parecia que iria me levar a Fortaleza de Belvedere. Tranquei a bicicleta num poste e resolvi encarar a pe. E sobe... e sobe ... e sobe, cheguei la em cima e me deparei com o portao da Fortaleza fechado e com um aviso que devido ao falecimento de uma jovem naquele local a justiça o tinha embargado. E ai voltar? Continuar? Pra onde? Resolvi entrar em uma viela, parecia a casa de alguem...mais fui. Um portao...entrei... agora estava nos fundos da Fortaleza. Bom, algumas passadas mais tarde, sem querer...encontrei a entrada de serviços do jardim de Boboli. jardim esse que quando tinha tentado ir na tarde anterior, a hora avançada nao tinha permitido a minha entrada. Mais uma vez, o tao presente acaso, me presentiava novamente. Descobria que a solidao, me permitia errar, me permia tentar, me permitia ir.

Retornando ao velho centro, ja de bike novamente, visitei mais alguns museus, reencontrei com meus pais e com o dia chegando ao fim e a hora da despedida da magrela se aproximando, resolvi terminar o dia no Museo Nacional da Fotografia. Uma exposiçao do fotografo Italo Zannier, mostrava fragmentos da vida dos italianos nas decadas de 50,60 e 70. Gente pobre, gente rica, casas, trabalhos... peças que me ajudava a montar um quebra-cabeças: que Italia meus avos deixaram para tras e qual eu estava descobrindo agora.

Depois de um queijos e vinhos no saguao do hotel da trupe oficial, fui dormir cedo pois o dia era de estrada. Um dia rodando por algumas cidades da Toscana.

Acordamos e com o carro rumamos a Siena. A estrada linda, com seus campos e vilarejos. Me sentia em uma maquete de trem.

Siena , com suas ruas medievais, seus palacios e igrejas é deslumbrante. No chao da praça principal, como bons europeus, nos deliciamos com os sandubas preparados com a sobra da noite anterior.















Na volta pela estrada, uma fortaleza em cima de um morro chamou a atençao e lembrei que tinha lido sobre ela em algum lugar: Montaglione. Consegui pegar a primeira saida e logo estavamos cruzando os muros que protegem a medieval cidade.




















A tentativa de ir a San Geminiano foi um pouco mais complicada. Com o GPS atrapalhando, demos algumas voltas ate chegar a mais belas das cidades visitadas no dia. Um por sol inacreditavel, pintava as paredes da cidade com um laranja quente e forte. Anoiteceu e terminamos o dia almoçando com uma vista inacreditavel! Um vale maravilhoso servia de "pano de frente" para uma comida deliciosamente toscana.















O dia foi lindo, mas nunca achei que fosse sentir isso... Ali com o grupo, tentando me adequar a sua velocidade, as vontades comunitarias, tentando evitar qualquer transtorno, tentando nao se perder... senti saudade da solidao. O meu maior medo quando parti, se transformara no meu maior trunfo.

Ja entrando em Florença novamente, decidi que vou me separar um pouco do grupo...vou tentar seguir para Cortona de trem. Amanha enquanto eles continuam a explorar as rendondezas, ficarei por aqui, vou resolver algumas coisas do resto da viagem e na estaçao, vou descobrir a melhor maneira de chegar ao proximo destino. Se for possivel, pretendo montar a minha adormecida bicilcleta e partir rumo ao interior da Toscana, ja com a magrela montada. E de brinde tentar dar mais conforto ao resto do grupo.

a seguir... cenas do proximo capitulo...

bjs a todos que tem me acompanhado nessa trip,

Gian Carlo Bellotti

5 comentários:

nandopavao disse...

Muito foda cara! Tenho acompanhado direto! Muito bons os seus textos!

Grande abraço meu camarada!

Luana disse...

sim, eu leio sempre
rsrsrs

acho que é isso mesmo, Gian. Agora a sua aventura vai começar.

é nos momentos a sós consigo que a gente pensa. e pensar faz bem pra alma. pensa nas escolhas, nos atos, nos atropelos, nas cabeçadas, no que acertamos.

e é assim que se cresce. e crescer é muito bom.

não deixe de postar. é uma delícia ler.

Unknown disse...

GIANZINHO!
Eu sou fã do seu blog, tá maravilhoso!!
O que foi esse relato com as filipinas???...tu num vale um real furado!!! Hahahahahha!
Continua contando tudo!
Beijosssssssssss

Unknown disse...

Muito bom tê ler...já falei e repito!!!
Eu te falei desse lance da solidão...solidão quando a gente ta de verdade com a gente é a solidão mais bem acompanhada de todas! Eu particularmente sou fã dessa solidão... tenho saudade dela quase todos os dias!
Aproveita meu querido mais querido - APROVEITA TUDO!!!!

beijos e beijos

Alice

Anônimo disse...

Tô adorando os textos. Não conhecia o poeta. Só o divertido, o esportista e o boêmio.
Beijos,
Ju Forli